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terça-feira, 22 de maio de 2012

Municípios pequenos do Estado começam a vivenciar as transformações provocadas pela chegada de fábricas de médio e grande porte

Municípios pequenos do Estado começam a vivenciar as transformações provocadas pela chegada de fábricas de médio e grande porte. Transformação socioeconômica impõe mais responsabilidades ao poder público

Eles não fazem parte das engrenagens do capitalismo moderno. Quando lembrados é por serem minúsculos. Só são mencionados como exemplo de atraso. Municípios que colecionam baixos Índices de Desenvolvimento Humano (IDH), Produtos Internos Brutos (PIB) menores que o faturamento anual de uma única indústria do Complexo de Suape e taxas de analfabetismo nas alturas. Um enredo que começa a mudar. Nos últimos dois anos, Glória do Goitá, na Zona da Mata, Carnaíba, no Sertão, Brejão, no Agreste, Ribeirão, Rio Formoso e Sirinhaém, na Mata Sul, receberam anúncios de plantas industriais e centenas de empregos. É o início de uma transformação socioeconômica que tem tudo para ser positiva, mas que, se mal gerenciada pelo poder público, fará com que os municípios passem a ser lembrados por desperdiçarem a maior oportunidade que tiveram de melhorar a vida dos seus cidadãos.

Brejão e Glória do Goitá são exemplos díspares. O município da Mata Norte, que sempre viveu da agricultura, agora vai abrigar uma fábrica de peças para motores da WHB Fundição e uma indústria de macarrão instantâneo da Nissin/Ajinomoto. Na cidade só se fala disso. Nas oportunidades de trabalho que vão evitar a migração para outros municípios e a dependência do emprego na prefeitura.
Wilma Santos de Menezes, de 22 anos, é uma dos 220 alunos que estão se qualificando na escola da WHB para trabalhar na fábrica. “Nunca imaginei que trabalharia numa indústria de peças para automóveis. Quem terminava o ensino médio aqui em Glória tinah que ir procurar emprego no Recife ou em outra cidade”, conta, dizendo que não vê a hora de vestir a farda da indústria, que está em fase de construção e começa a operar no próximo ano. A paranaense WHB está investindo R$ 300 milhões num primeiro momento para fabricar virabrequins (coração do motor automotivo). A empresa também vai construir um hotel no município para abrigar seus funcionários, fornecedores e executivos que precisam visitar a cidade.
Um dos menores municípios do Estado, com cerca de 10 mil habitantes, Brejão aguarda com descrença a sua revolução industrial. A Notaro Alimentos vai gastar R$ 40 milhões para erguer uma fábrica de embutidos de frango que vai empregar 400 pessoas. O presidente da empresa, Marcos Notaro, afirma que a construção da planta só começa em 2013. Quando estiver rodando, terá capacidade para produzir duas toneladas de embutidos por hora. A prefeitura de Brejão conta que as negociações com a empresa duraram dois anos. A população da cidade, entretanto, comenta que a chegada da unidade é prometida há quase uma década.
A Notaro vai ocupar 45 hectares (ha) de uma área total de 71 ha, adquirida pelo governo do Estado e que será doada a investidores industriais. Os 25 ha restante tem sido oferecidos a outras 14 empresas que analisam Brejão como possível destino de suas novas fábricas. A lista apresentada pelo prefeito Sandoval Cadengue (PSB) conta com a fabricante paranaense de papel higiênico Embalagens Bacarin; a produtora caruaruense de louças e vasos sanitários Luzarte Estrela (R$ 20 milhões e 300 empregos); e uma planta de armações para óculos da Clinope (R$ 3 milhões e 150 postos), dentre outras.
O tamanho do entusiasmo em ano eleitoral é equivalente à lista de desafios. As deficiências são primárias em Brejão. A água que sai das torneiras de lá "não dá nem para lavar as mãos", comenta o comerciante Adesildo Carvalho. O presidente da Câmara de Vereadores do município, Luciano Caetano (PMN), ex-aliado do prefeito, diz categoricamente que "ninguém está capacitado para trabalhar em uma fábrica na cidade”. “Não há moradias. Os jovens estão desistimulados. E 80% dos comerciantes são contra o prefeito", ataca.
Desconfianças à parte, a avicultura, atividade recente na cidade, promete ser a primeira atividade econômica de Brejão impulsionada pela chegada da Notaro. Há cinco anos, pessoas da cidade começaram a se tornar integrados - terceirizados que monitoram a engorda das aves - de granjas de Bom Conselho. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o rebanho de aves gira em torno de 369,6 mil cabeças. O integrado Adriano Rabelo acredita que a fábrica de embutidos aumentará na concorrência e, consequentemente, elevará o preço pago pela taxa de engorda de frangos, que varia de R$ 0,30 a R$ 0,70 por cabeça.


Galeria de imagens

Obra da fábrica da WHB Fundição, em Glória do Goitá
Guga Matos/Jc Imagem
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Durante a construção das fábricas e nos dois primeiros anos de funcionamento, os aspectos positivos da industrialização são mais latentes que os negativos. A geração de empregos faz com que o dinheiro circule em maior quantidade, reduzindo a dependência crônica das pensões dos aposentados e dos salários da prefeitura. Capacitação da mão de obra enfim acontece, nem que seja, ao menos, capitaneada unicamente pela empresa. E o dinamismo econômico gera mais receitas para o município, que vai recolher mais Imposto sobre Serviços (ISS) e obter mais repasses do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Com os cofres cheios, não há como lançar mão da desculpa de falta de recursos para não tocar obras estrturantes, como pavimentação de ruas e construção de escolas e unidades de saúde.
Os lados negativos começam a aparecer quando a cidade passa a ser vista como "ilha de empregos", especialmente se os municípios vizinhos são tão ou mais pobres. Urbanisticamente, há o risco da formação de favelas na zona rural, caso habitantes dessas cidades não consigam se estabelecer na área urbana. Além disso, o sem investimentos, os postos de saúde ficarão estrangulados, o aluguel de imóveis pipoca, faltarão vagas nas escola. No médio prazo, se um trabalho vigoroso de qualificação não tiver sido iniciado ainda no período de construção, aqueles que atuaram nas funções mais básicas da obra serão os primeiros a serem descartados na fase de operação do empreendimento.
"O desafio maior é diversificar o setor industrial depois de captada a primeira fábrica. Atrair outras atividades. A dependência de uma cidade em uma única fábrica é ruim. O município vira refém. Basta uma crise no mercado em que a empresa atua para o município ser altamente prejudicado. Um terceiro turno de trabalho cancelado já significa queda nas vendas no comércio”, comenta o economista e pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco, Luís Henrique Romani.

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