Espaço do Internauta

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

De Lagoa de Itaenga para o mundo

Por Andréa Sales
Geralmente, quando se fala em política social se faz referências às formas de promoção da cidadania e garantia de direitos com ações coletivas. Por essa razão, a presença do governo por meio de projetos é fundamental. Então, vejamos um pouco da experiência desenvolvida pela Universidade Federal Rural de Pernambuco, na comunidade de Marrecos, Zona da Mata de Pernambuco.
Inicialmente, é importante dizer que a referida comunidade rural do município de Lagoa de Itaenga tem o apoio do governo federal – na posição da UFRPE – numa era de terceirização dos programas sociais e precarização do trabalho.
Em segundo lugar, a Zona da Mata é marcada pelo predomínio da cana-de-açúcar e por uma mão de obra desqualificada para o trabalho da indústria de transformação. Ao mesmo tempo, intensas jornadas de trabalho, baixo nível de satisfação pessoal e falta de políticas sociais capazes de reproduzir outro padrão de vida coletiva.
Na verdade, a política social que se materializa na Zona da Mata, no contexto da região Nordeste, quase sempre não ataca as causas dos problemas sociais provocados pelo desemprego. Pelo contrário, as formas dos programas sociais além de contribuírem para qualificar o subemprego o coloca como um problema do trabalhador rural. Por sua vez, este trabalhador nunca conquistou os melhores salários, qualidade de vida e seguro-desemprego.
Lagoa de Itaenga – especificamente a comunidade de Marrecos – foi descoberta pela televisão e veiculada para o mundo porque descobriu o valor do aprendizado social. A contribuição da educação escolar foi fundamental no aprendizado sobre projetos de inclusão social, comunicação em rede, bem como os seus impactos no processo de construção das interações sociais.
Essa comunidade – sob a orientação do Prof. Guilherme Soares – está de parabéns. Com uma trajetória de luta na vida pessoal e coletiva as pessoas tentam transformar a trágica condição da política social numa ação estruturadora. Eles estão enfrentando as condições materiais de sua existência com tecnologias alternativas oferecidas pela filosofia da agricultura familiar e do desenvolvimento sustentável. Nesse sentido, juntaram o cultivo de bons frutos com a consciência de um padrão de vida com responsabilidade de um com o outro.
Jovens e adultos trabalham, aprendem e ensinam o caminho da escola, bem como a importância do trabalho, do repouso e a idéia de pertencimento à comunidade. Estão mostrando ao mundo o modo pelo qual se realizam sonhos. Filhos de pequenos agricultores ocupando seus espaços nas universidades públicas federais.
A comunidade de Marrecos em Lagoa de Itaenga é um exemplo de superação das fraturas sociais e da concentração da renda. Eles reconhecem as mudanças no chamado mundo do trabalho requalificando o cotidiano. Por isso mesmo, elegeram a organização da agricultura familiar e o desenvolvimento sustentável como o caminho das interações com os valores culturais da solidariedade.
Aos gestores dos municípios que compõem a Zona da Mata fica o aprendizado: é possível entender que a terceirização dos projetos e programas sociais não será capaz de ressignificar a Zona da Mata de Pernambuco. Pelo contrário, para requalificar o impacto das políticas sociais, a presença pública do governo federal tem se mostrado como o caminho das parcerias com os governos estaduais e municipais.
Pois a proliferação de organizações não-governamentais e cooperativas de serviços – conhecidas por coopergatos – sinalizam a crise da sociedade do trabalho e do formato das políticas sociais. Ao mesmo tempo, as pessoas que atuam no interior dessas organizações tentam superar a presença da ação do Estado silenciando o fracasso no uso de recursos públicos, bem como a incapacidade dos contratos de gestão se colocarem como solução para o problema da exclusão por meio do trabalho.
Por Andréa Sales – Cientista Política.

Da voz da vitória

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