O Cordeiro Imolado e o Herói Sem Luta
por Hely Ferreira*
Durante anos a fio, a história do Partido dos Trabalhadores (PT) foi sendo construída com grandes lutas em favor dos chamados excluídos, levantando-se sempre a bandeira rubra em defesa da ética na política. Trazendo para o centro do debate, desse modo, o velho sonho de Sócrates, Platão e Aristóteles. Até o dia em que as denúncias do famigerado “mensalão” atingiram de forma impávida o PT, nivelando por baixo todos os partidos políticos. Até quem não cultivava simpatia pelo partido da estrela, admitia que ele fosse diferente dos demais, até mesmo pela maneira como foi criado, buscando uma aproximação com a chamada classe trabalhadora.
Havia vários estigmas no discurso petista, dentre eles a utopia de que o partido era formado unicamente por pessoas blindadas à corrupção, enquanto que, do outro lado, estariam aqueles que apresentavam, em maior ou menor grau, facilidade para se corromper.
Ainda há quem vislumbre na pessoa do senhor José Dirceu uma espécie do cordeiro imolado, sendo necessário o seu sacrifício para que outros companheiros não passassem por constrangimentos, que, de outra forma, não podiam ser ladeados. Mas há também quem encare o senhor Delúbio Soares como um herói. Em um País que vive à procura de um messias, heróis como Macunaíma e João Grilo são bem-vindos.
O grande problema, porém, é que a agremiação partidária em comento está perdendo a oportunidade de resgatar as suas bandeiras, e, consequentemente, o seu referencial, por ter passado a acreditar que através do poder é possível solucionar todas as querelas, até sufocar ideias antagônicas às suas crenças, esquecendo-se que uma das benesses da democracia consiste exatamente na possibilidade de conviver de forma amistosa com quem pensa diferente. A tão decantada, mas pouco praticada, “convivência dos contrários”.
por Hely Ferreira,
*Cientista político
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